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Por que a valorização do caminhoneiro é tão urgente?

A falta de valorização do caminhoneiro nos últimos anos, vem contribuindo para o déficit de mão de obra jovem e a desistência da profissão por parte de alguns motoristas. Pesquisa realizada pelo Clube da Estrada, com 500 motoristas, no mês de junho, mostrou que 71% dos caminhoneiros não se veem exercendo a profissão nos próximos dez anos. Para a grande maioria dos profissionais, é preciso melhorar a segurança nas estradas (78%), oferta de pontos de parada e descanso (76%) e infraestrutura (71,4%).


Estudo promovido pelo Instituto Paulista do Transporte de Carga (IPTC) com base nos dados coletados entre 2021 e 2022 pelo CAGED, DETRAN e DENATRAN mostraram que desde 2015 o número de motoristas habilitados para (categoria C e complementares) vem diminuindo. Até então o crescimento era modesto (cerca de 1,4% ao ano), porém nos últimos anos tem caído a taxas de até 5.9% ao ano o número de registros. São Paulo tem quedas ainda mais acentuadas, chegando a registrar uma diminuição de 8,9% nos motoristas habilitados entre 2017 e 2018. No ano de 2022, o Brasil registrou o menor número de motoristas habilitados na categoria C, com uma queda de 1,67% em comparação com 2021.


Outro dado que chama a atenção para a urgência de ações para incentivar o ingresso de motoristas é o perfil da idade desses profissionais que mudou nos últimos 10 anos. Em 2010, a grande maioria se encontrava na faixa de 41-50 anos de idade, enquanto em 2022 observa-se o envelhecimento da categoria, passando a se concentrar na faixa entre 51-60 anos. O número de novos motoristas na primeira faixa (18-21) anos caiu 68,6%, mesma proporção da faixa 22-25 anos (67,6%). A tendência segue o panorama nacional.


Valorização do caminhoneiro ajuda a não colocar a profissão em risco

Para Alan Medeiros, assessor institucional da CNTA – Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos- fatores como baixa remuneração baixa, a condição de trabalho precária e a falta de estrutura adequada, somadas aos custos e aos riscos da profissão, têm sido fatores decisivos para o não ingresso e permanência desses profissionais na área.


“O interesse pela profissão por parte dos jovens a partir do incentivo de pais e familiares que atuam na área, não tem sido algo comum. Diferente do que sempre vimos nessa profissão, a maioria dos caminhoneiros atuais diz que não incentiva os filhos a seguir a mesma profissão em virtude das dificuldades e da falta de reconhecimento”, explica.


Em relação a ações urgentes, a CNTA acredita que é necessário preservar a segurança, a autonomia e o conforto desses profissionais e garantir que as leis existentes que asseguram os direitos básicos da categoria sejam, de fato, cumpridas. “Paralelo a isso, é preciso investimento em infraestrutura rodoviária, com melhorias nas estradas e nos pontos de parada e descanso, além do reforço na segurança. Atualmente a categoria é lesada mesmo tendo seus direitos garantidos através de leis específicas. Uma remuneração adequada também seria reflexo de um trabalho valorizado”.


Valorização do caminhoneiro: “Horários para carregar e descarregar, insegurança, são algumas coisas que me acompanham desde o início há 30 anos”


Na estrada, os caminhoneiros dizem ser necessários algumas ações para melhorar o dia a dia na profissão e ajudá-los a se sentirem mais valorizados e, principalmente, terem expectativas de melhora e assim manter a paixão pelo caminhão. É o caso de Ronaldo da Silva, 59 anos, 28 de profissão, de Barra Mansa/RJ. Ele acredita que a profissão é boa e tem muitas coisas positivas. Mas, também, é carregada de desafios e um pouco de sofrimento. “Horários para carregar e descarregar, insegurança, são algumas coisas que me acompanham desde o início há 30 anos. Hoje, mesmo aposentado pretendo seguir na profissão. Trabalho em uma transportadora em Barra Mansa/RJ e faço a linha Rio de Janeiro e São Paulo, o que me permite ficar mais tempo em casa. Me vejo dirigindo pois eu gosto da profissão e sou motorista por paixão”.


Valorização do caminhoneiro: “algumas coisas precisam melhorar, entre elas que os postos permitam permanecer no pátio mesmo sem abastecer”


Cristiane Amorim Maleski, de 39 anos, QRA Cigana, de Porto Velho/RO. Ela iniciou a carreira em caminhão frigorífico e hoje atua no transporte de câmara fria como agregada e viaja o Brasil inteiro. Para ela a profissão de caminhoneiro proporciona uma boa remuneração e a possibilidade de conhecer lugares diferentes. Nos próximos anos, Cristiane se imagina atrás do volante na estrada em busca de mais um compromisso.


“Não me vejo em outra profissão, pois foi aqui que me encontrei, me conheci melhor e tive a certeza de sermos capazes de mudar a maneira que vemos as coisas e isso faz toda a diferença. Sou apaixonada pela profissão. Mas algumas coisas precisam melhorar, entre elas que os postos permitam permanecer no pátio mesmo sem abastecer”, opinou.


Valorização do caminhoneiro: “os locais para descarga não comportam o tamanho desses veículos e as estradas, principalmente as de Minas Gerais onde atuo”


Luciano Cândido de Souza, 44 anos de idade, Formiga/MG, acredita que as coisas não mudaram muito desde que começou no caminhão há 17 anos. “A grande mudança que eu observo diz respeito a evolução dos caminhões e o rodotrem que tomou conta das estradas. Porém, a infraestrutura não acompanhou essas mudanças, pois os locais para descarga não comportam o tamanho desses veículos e as estradas, principalmente as de Minas Gerais onde atuo, estão cada vez mais precárias e sem investimento adequando, dificultando o dia a dia do caminhoneiro”.


Em relação ao futuro, Luciano acredita que a vida do autônomo não é fácil e, portanto, caso não consiga se manter competitivo no mercado fica difícil permanecer na profissão. “Pretendo continuar na profissão enquanto acreditar que existem condições adequadas de trabalho. Uma coisa importante de acontecer seria alternativas viáveis para atualizar o caminhão. Mas tudo isso depende de ações do governo”, afirmou.


Valorização do caminhoneiro: “É uma profissão cansativa, perigosa e muitas vezes não temos retorno de todo investimento feito seja material ou físico”


Diferente dos colegas, Pedro Muller, 59 anos, de Capetinga/MG, deixou a profissão na época da greve dos caminhoneiros, em 2018, e conta que o principal motivo foi não ter conseguido dar conta de honrar os pagamentos devido ao faturamento baixo e o desgaste físico e emocional acumulado ao longo dos anos.


“É uma profissão cansativa, perigosa e muitas vezes não temos retorno de todo investimento feito seja material ou físico. Trabalhamos o tempo todo para os outros e tudo o que recebemos acaba ficando para alimentação, pedágio, diesel, manutenção. Mas, mesmo assim, conseguia tirar um dinheiro. Porém o cansaço era demais e a saúde fica muito comprometida. O caminhoneiro não dorme bem, viaja por muitas horas seguidas, no frio, na chuva, e não tem tempo para se cuidar. E não conseguimos ser valorizados”.


Apesar de todas as dificuldades enfrentadas por Pedro, que o afastaram das estradas, ele garante ser um apaixonado pela profissão. “Eu amo o cheiro do caminhão, o barulho do motor, as estradas e pretendo comprar um caminhão. Além de passear, quero poder trabalhar na agropecuária, onde estou atualmente. Viajei muito por essas estradas e posso dizer que realmente gosto de estar em um caminhão, cuidar, equipar. É um prazer, um hobby. E essa paixão foi que me moveu e permanecer apesar de todas as dificuldades que passei. Mas, eu jamais voltaria a ser autônomo para prestar serviço para transportadora. É muita exigência para pouca valorização. Voltaria apenas para transportar as minhas coisas”, afirmou.


Valorização do caminhoneiro: É importante trabalhar o psicológico pois corremos riscos todos os dias, Além disso, você vai encontrar pessoas que não têm a mesma humildade.


Ana Paula é de Mato Grosso, tem 40 anos de idade e há seis trabalha como motorista. Iniciou a carreira no rodotrem e hoje atua na câmara fria. A história dela se mistura com a de outras gerações da família como pai, tios e primos, que também são do ramo do transporte. A paixão por caminhão vem desde a infância. “É um amor incondicional. A estrada me ensinou a ter paciência, a ser seletiva com as situações, pois nem tudo é fácil, tem muitos desafios. É importante trabalhar o psicológico pois corremos riscos todos os dias, Além disso, você vai encontrar pessoas que não têm a mesma humildade. Infelizmente a nossa classe é muito malvista em alguns lugares. Graças a Deus em outros somos muito bem tratados. Ainda é preciso uma conscientização maior que somos a peça fundamental para a economia do Brasil girar. Eu não sei o que o futuro me reserva. Mas, não me vejo em outra profissão. Amo essa profissão. Vem de sangue.


Valorização do caminhoneiro: Gosto de saber que estou levando uma carga que vai ajudar alguém.


Outro motorista que apesar das dificuldades não têm intenção de parar é Leandro Munhoz, 38 anos, 16 de profissão, de Itapetininga/SP. Nos próximos anos a expectativa dele é se tornar mais experiente. “Eu amo o que faço. Adoro minha profissão. Meus companheiros de estrada. Nossa! São muitas coisas boas de ser caminhoneiro. Gosto de saber que estou levando uma carga que vai ajudar alguém. Que levo uma carga de trilho de trem que vai contribuir para o ferroviário funcionar. De saber que levo o adubo para deixar a soja ficar bonita. Não tenho intenção de sair dessa profissão, pois tenho paixão pelo que faço e quero continuar por muitos anos e me aperfeiçoar”.





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